quinta-feira, 25 de junho de 2009

Samora Machel igual a Martin Luther King Jr.


Defende Jorge Rebelo, conceituado ideólogo do partido frelimo...

Machel tinha valores que fariam do país um modelo para outros países

“Moçambique é o que é e aquilo que será graças a es tes dois chefes (Eduardo Mondlane e Samora Machel)”, defende Jorge Rebelo, antigo combatente de luta de libertação nacional e membro da Frelimo, como forma de exprimir a gran deza e o papel destes dois líderes que deram a vida por um Mo çambique independente. Rebelo fez estes pronunciamentos numa palestra proferida ontem, na Au toridade Tributária de Moçambi que, por ocasião do 34º aniversá rio da independência nacional que hoje se assinala.



Jorge Rebelo disse que “Samora Machel tinha uma visão, princí pios e valores por ele defendidos e praticados, iguais a de Martin Luther King Jr., que, se tivessem sido seguidos integralmente, Mo çambique seria um modelo para todos os outros países.”



Samora, segundo Rebelo, de fendia que o racismo e o apar theid estavam condenados a de saparecer para dar lugar a uma sociedade em que a cor da pele não seria o critério, visão defen dida também por Luther King Jr.. hoje, essa realidade consu mou-se na África do Sul e nos Estados Unidos.



Também considerava que a go vernação “não era publicar leis ou decretos cujas razões o povo não compreendia, mas todos de viam executar para não serem punidos”. Daí que, para governar, na sua óptica, era preciso conhe­cer os interesses do povo e estar constantemente ligado ao povo para melhor escutá-lo e melhor resolver os seus problemas, sem minimizar o tamanho do proble ma, seja do dia-a-dia, pois o povo elege-nos para servi-lo.



Parasitismo nas empresas estatais

Em relação ao Aparelho do Estado, Samora dizia que “é o instrumento fundamental para a implementação da política na cional de desenvolvimento eco nómico, mas que, para o efeito, as suas estruturas têm que ser muito dinâmicas e operativas. Têm que ser o mais organizado e o mais disciplinado, porque é onde a produtividade é mais ele vada.” Samora falava do contexto de uma economia centralmente planificada, no entanto, segun do Rebelo, ainda hoje é visível a inércia deste sector, estando este “bloqueado pelo burocratismo, incompetência, desleixo, desin teresse, sabotagem aberta ou ca muflada”. Como se não bastasse, nas empresas estatais, são visíveis o parasitismo, a inércia, indisci plina, baixa produtividade. Nas repartições públicas, os assuntos mais urgentes arrastam-se sema nas, meses e até anos sem solução. Samora defendia a eliminação da mentalidade do subdesenvolvido, que ainda se encontra em muitos trabalhadores e responsáveis a vários níveis. É uma mentalidade que foi eliminada nos países mais avançados independemente do seu sistema político e económico. Samora também defendia que, no âmbito da unidade nacional, se devia juntar nas escolas alunos e professores das diversas regiões do país, para que do convívio quotidiano se perdessem os re flexos regionais, para se adquirir um sentimento e consciência mo çambicana. Mas para tal, era pre ciso “eliminar, entre vários males, o tribalismo e o regionalismo que nos impedem de assumir a gran deza do nosso país, não nos per mitem compreender a complexi dade da nossa pátria e, sobretudo, dispersam as nossas forças.”



Sobre a corrupção, Samora Machel, segundo Rebelo, dizia “nunca utilizar o cargo para ob ter benefícios pessoais porque, caso contrário, o dirigente per de a autoridade política e moral e entra numa teia infindável de compromissos”. Segundo Rebe lo, Samora dizia que “quem tem o bife na boca não pode falar.”

Rebelo também recorda que Samora defendia ser preciso in cutir a cultura de prestação de contas, combater o burocratismo, a corrupção, a criminalidade e o espírito do deixa-andar.



Poder, Democracia e Justiça

Rebelo refere que o antigo es tadista moçambicano dizia que as facilidades que o poder cria podem corromper o homem mais firme, por isso, recomedava aos políticos que vivessem mo destamente e com o povo. Assim, incutia o dever de não fazer do cargo incumbido para benefícios pessoais ou de familiares. Samo ra considerava que a corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as escolhas, “cunhas”, o nepotismo faziam parte do sistema de vida que estava a destruir.



Sobre a democracia, Samora defendia a prática de uma demo cracia real, com uma verdadeira liberdade de expressão e opinião, uma discussão profunda acerca das decisões que tomamos, e que estas deviam ser democráticas no conteúdo (interesses reais do povo) e na forma (o povo deve participar da decisão e não sen tí-la como imposta de cima para baixo).



E quanto à Justiça, argumenta va que o aparelho judiciário devia ser reorganizado para que a justi ça fosse acessível e compreensí vel ao cidadão comum da nossa terra, contrário do que acontecia com o sistema burguês que tor nava o sistema de administração da justiça uma complexidade desnecessária, de um palavreado deliberadamente confuso e en coberto de uma lentidão e custos que criam uma barreira entre o povo e a justiça. Ou seja, o siste ma judiciário que existe no nosso país serve aos ricos e só a eles é acessível. E o caminho, segundo Samora, é a sua simplicação.



Emancipação da Mulher

Jorge Rebelo também recordou que Samora considerava a eman cipação da mulher não como um acto de caridade, nem de uma posição humanitária, mas, sim, uma necessidade fundamental da revolução, uma garantia da sua continuidade, uma condição do seu triunfo. Pelo que não era possível que a revolução triunfas se sem a libertação da mulher.



Educação

A educaçao tinha um papel im portante na visão do primeiro pre sidente de Moçambique. Rebelo lembra que este considerava que o estudo “é como uma lanterna à noite” que nos mostra o caminho. E dizia que trabalhar sem estudar poder-nos-ia relançar no futuro, mas grandes eram os riscos de nos enganar pelo caminho, de tropeçarmos e cairmos.

Fonte - jornal o Pais, QUINTA, 25 JUNHO 2009 12:57 REDACÇÃO

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